Desabafo do Designer – Texto do Morandini


Li esse texto do Morandini, ilustrador e designer, no Blog Paulo Victor e amei tanto que resolvi republicá-lo na íntegra aqui. Mas antes vamos às minhas considerações:
Ouço de muita gente, repetidamente a pergunta: “Quanto devo cobrar pelo meu trabalho? Então, sempre falo que isso é muito, muito complicado de se opinar, já que o preço depende da experiência do profissional (quem está começando e não tem trabalho nenhum reconhecido, não conseguirá cobrar muito), depende do mercado local onde a pessoa está inserida (lei da oferta e da procura; se tem muitos designers e agências e concorrência desleal o preço às vez cai muito).
Eu sempre dou os seguinte conselhos:
  • Não comece querendo cobrar muito (você pode “chutar” alto e não conseguir pegar nenhum job);
  • Tenha a sensibilidade de perceber se você cobrou pouco e fazer um orçamento maior na próxima vez;
  • Conforme você for adquirindo experiência, tenha consciência que seu serviço valerá mais; e
  • NUNCA, EM HIPÓTESE ALGUMA faça serviços de graça (a não ser que seja para entidades sem fins lucrativos e de seu interesse ajudar). Cliente lucra, você também tem que ganhar. Se ele se diz seu “amigo” e quer serviço de graça… Bem, talvez você tenha que rever quem de fato são seu amigos.
Bem, vamos agora ao excelente artigo do Morandini:

Não me peça para dar a única coisa que eu tenho para vender” (Cacilda Becker)
Nós, designers, (bota aí também os ilustradores e artistas) adoramos o que fazemos. Ninguém entra nessa área sem ter, no mínimo, muita paixão pelo que faz.
Nesses quase 23 anos de atuação profissional através do meu próprio estúdio, perdi a conta de quantos clientes, amigos e desconhecidos (!) me pediram logotipos, ilustrações, artes, ‘desenhinhos’ ou ‘pequenos favores’ de graça. A maioria foi delicadamente recusada mas, confesso aqui publicamente meus pecados: já atendi alguns desses pedidos… Tá legal, vou falar a verdade… Já atendi VÁRIOS desses pedidos! (tenho culpa de ter muitos ‘amigos’?) Mas também tenho de dizer que, depois de longo ‘tratamento’ :) já estou quase curado dessa incômoda patologia!
E, não estou falando de filantropia, pois quando identifico trabalhos sociais bem intencionados, faço questão de atender e ajudar. Falo de pedidos sem remuneração, feitos para atender necessidades pessoais, comerciais e corporativas. Coisa que vai gerar retorno, seja de imagem, de público ou até mesmo financeiro.
Ao longo desses anos, esses pedidos assumiram as mais variadas formas e vieram disfarçados sob os mais diversos argumentos. Seguem os mais comuns:
  • Não precisa ter pressa… Quando você tiver cinco minutinhos sobrando você faz…
  • No momento a grana está curta, mas assim que der retorno a gente acerta!
  • Faça esse trabalho de graça e no próximo eu nem pergunto o preço!
  • Pagar eu não posso, mas vou divulgar seu nome para todo mundo!
  • Você poderá divulgar seu nome junto com o desenho ou colocar sua assinatura na arte!
  • Isso pra você é moleza…
  • Tenho um amigo que faz de graça mas quero dar a oportunidade para você!
  • É uma parceria: você faz de graça agora e ganha lá na frente!
  • Faça uns esboços. Se eu gostar a gente acerta um preço.
  • Não precisa ser nada muito caprichado…
  • Faz aí depois a gente acerta!
  • Ah, mas isso é diversão para você! Você faz brincando!
Todas essas frases e pedidos me levam a acreditar que essas pessoas que pedem coisas de graça acham que:
  • Eu não me alimento, não tenho contas para pagar e meu carro é abastecido com ar.
  • Meus softwares são de graça e recebo meus computadores e equipamentos como doação.
  • Minha conexão de internet é feita através de telepatia.
  • Eu desenho por diversão, crio logotipos por prazer e projeto coisas apenas para ocupar o tempo.
  • As idéias nascem na cabeça por geração espontânea.
  • O Governo não me cobra impostos.
  • Acho livros e material de pesquisa na rua (além de não me cobrarem ingressos em exposições e eventos).
  • Recebi uma herança (grana pra nunca mais ter de trabalhar!) e resolvi virar uma espécie de ‘Madre Tereza de Calcutá’ do design e da arte, fazendo apenas caridade…
  • Meus fornecedores mandam um enorme carregamento de tintas, pincéis e telas todos os meses (de graça!!!) para o estúdio.
  • Meu dentista, meu contador, minha faxineira e todos aqueles que prestam serviços para mim, trabalham por prazer, sem cobrar um centavo!
No ‘mundo real’, porém, a matéria prima do meu trabalho é uma equação muito bem balanceada. Ela é composta de TEMPO (um bem muito precioso!), IDÉIAS (fruto de mais de 30 anos de estudo e uma vida inteira de experiências), PROFISSIONALISMO (coisa rara nos tempos atuais) e CONHECIMENTO (resultado de todos os trabalhos feitos até hoje e de MUITA pesquisa).
Isso tudo tem um valor. O valor que, quando é pago, reverte em benefícios enormes para quem me contrata, gerando muito retorno institucional e financeiro.
Design e arte não são caros. A forma com que se investe neles (pagando por eles) é diretamente proporcional ao grau de seriedade que uma pessoa tem em relação ao seu empreendimento, seu pequeno negócio e sua própria imagem.
(Copyright – Morandini 2008)
PS.: Pode reproduzir este texto gratuitamente, tá? Só não esqueça de colocar o link para meu site!
www.morandini.com.br

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